25 outubro, 2009

Teia quântica quase

Um objeto, palavra, substantivo, sentimento, idéia, não sei. Têm coisas que são coisas sem palavras, forma, cheiro, sabor, cor peculiar, ignoro. Como descrever isso que não é. Nem sei se compensa tentá-lo. Ocorreu-me algo se movendo sinuoso sob o chão sólido por instante líquido. Um azul de céu claro sem nuvens, se movendo como se fosse ventre parido que se espreguiça. Um verbo sem ação existindo sempre, na fronteira do tato, a quase toque ou roçar de pálpebras sonolentas.
Algo que se esconde meio sono, sonho, vigília ou mente zen alerta. Parece que tem alma sem tê-la, isso é certo. Um meio entre pergunta e resposta na ponta da língua que não vem. Se movendo na mente como surpresa que tarda, se atrasa indefinidamente.
Existe a quase alegria, saudade, de alguém sem identidade, nome, ou olhos sem pálpebras. Não chega a ser névoa, pois quê, mais pesado. Não flexiona em gênero, cardume de fogo, luz ou imanência. Dar-lhe palavra é negar-lhe. O nome é sua morte, um signo sua negação. Suave como giletes agudas e doce como o gosto do ar na fome.
Descobri sua não existência existente numa tarde de maio, apesar de, já bem antes, desde muito sem que eu soubesse, saber-lhe a ausência.
Está sob tua pele, sob a palavra pele, quase no tecido do medo, entremeado na epiderme da compreensão. Ali próximo, onde a morte se acasala com o riso e pare o tempo suspenso.

(P.Cruz)

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