18 setembro, 2012

Ama,
sabe que ama
e anda
em sombras.

Pois o amor é fogo
escuro,
Ilumina claros.
Inconcluso.


 (P. Cruz)

16 setembro, 2012

Doze exatos nem a mais
Neste ameno dia.
Centímetro bordas irregulares,
Coriáceas reentrâncias.

Bomba radioativa de
Cabeça raspada.

Hoje doze centímetros.
Meio-dia, meia-noite,
Relógio
Sequência de dígitos.

 - Quanto tempo de vida?

- Quantas horas de sono?

Doze regras para sobrevivência:
Dose, rádio, quimio, amputar, ampulheta.
Morfina e broche de ouro
Jóia comida nas bordas.
Bela terrível sentença
Sentir na tez da diagnose.

(P. Cruz)

08 setembro, 2012

Cabelo de Medusa,
Espada de Perseu,
Cabeça de cão, fé, honra,
Escudo de dragão.

Ferrão dos deuses,
Aguilhão,
Ferro, ferro, ferro.
Ira aguda, ira, ira.
Paus no mar,
Cabeça na proa,
Proa na onda.
Cabelos de sal
Cobras mortas.
 
Tosa.
 
Talhe ilegítimo,
Inútil istmo, ânimo
Angustioso, longo
Litoral de mau augúrio.
Olhos insepultos.
Fogueira úmida de ritos,
Mar em fogo e sangue.
 
Mar de olhos insepultos
Vaga órbita orbita
Ladra no silêncio.
O cão do ínfero
Com boca na noite infame.

O que voa na
Peçonha do escuro é voo
De vela inflada de ódio.
Dia, rotundo dia.

Medusa, o meu rei
É posta de carne,
Cabelos de sal negro
Régio,
Na proa no escuro,
No cedro pau ferro.
Fio gume, fúria.
Em Ur é dia.
Cá a noite é
Escuro túmulo
Do Deus cabeça de sal,
Olhos insepultos
Acesos no breu.

 (P. Cruz)

03 setembro, 2012

Na noite o silêncio é quieto
Como o verso da sílaba,
O reverso da matilha.
 
A raça, às vezes, é gueto,
Raiva, comida de vento,
Veneno é palavra.
 
O começo feito
Arco da lira,
Semente da ira.
Logo, vem ódio e muro,
Estrelas, casulo,
Desterros, exílio,
Fugas, urro.
 
A noite, no campo,
É de gemidos esparsos,
Lua gume
Sentença afiada de fúria.
 
- Não fale alto
Vai acordar os mortos,
Vai despertar farrapos de corpos,
Cinzas nas roupas,
E sob as unhas
Fome e choro no escuro.
 
(P. Cruz)