15 setembro, 2011





Crash

 

 

O trânsito é terra sem lei, vale-tudo. MMA valendo fraturas expostas e revanche bruta. Alta velocidade, raiva acesa pronta para destruir, destroçar, fechar, capotar, jogar para o acostamento. Som alto, buzina nervosa, manobra arriscada, risco, medo, adrenalina, engarrafamento de mentes. De vez em quando um corpo. Moto com terra e sangue. CRV cuspindo pressa e morte.

No trânsito mulheres não são belas; nervosas, esquizofrênicas, feras. Homens testosterona e bichos maldosos. Civilidade palavra podre no outdoor. Sinalização é signo do Estado bandido. Respiramos câncer em fumaça e ar condicionado virótico. O trânsito vocifera: você não é humano. O humano em você se acha rodas, velocidade, lata. Há exceção à regra? Mas não há nenhuma regra.

Há o pedestre correndo parvo, em pânico, para alcançar a margem da via expressa levando a tiracolo precária sobrevida.

 

(P.Cruz)





27 junho, 2011


Simulando Baudrillard Brasília é a Disneylândia da Terra Brasilis.

Simulando Girard, santos nus na Avenida Paulista é sacrifício inútil, quer dizer, violência sacrificial engendrando afiada roda de samsara de escambo mútuo. Pra bom entendedor camisinha é adereço.

(P. Cruz)

23 maio, 2011

Lógica


Teu cavaleiro é

Um rouxinol ou graúna faminta de

Arco-íris e coração de abóbora?


Aquela música

Na curva da estrada, dobrando

O rio, subindo

O morro, abrindo

O portão, soando

Na calçada é ela.

Entre. Feche essa porta

De ouro e vento.


(P.Cruz)

09 fevereiro, 2011


Moeda de troca

Não se conversa a esmo jogando tempo fora. E o tempo é de acirrar ânimos. Então evite duelos e contendas. Caminhe pelas beiras. Dando voltas fora do redemoinho, mantendo distância prudente.

Não é tempo de se falar feio, e o silêncio pode ser entendido como ofensa. Ter opinião pra tudo e ter pra nada senso. Jeito de respirar fundo e suave, deixando a mente calma e o instinto ágil.

Ceifam-se vidas como se podam campos de trigos. Pior é o fogo. É do céu que vem sopro do encanto confundindo pessoas. É do fundo do mar que olhos vermelhos de peixes deixam o escuro e saem à caça.

É hora de caminhar no fio da espada com equilíbrio de asas ausentes. Austeridade. Fortaleza. Maleabilidade. Invisibilidade. Não é estiagem de se mostrar brilho. Não é lua de desfrute. Não é estação de exílio ou acerto de contas. É tempo de deixar a consciência fluir com o fogo. É antigo circulo fazendo volta no meio-dia. Coisa que não se vê de comum. Coisa difícil.

(P. Cruz)

08 fevereiro, 2011

Real

Palavra escrita em folha é árvore.
Grafite casca de pau.
Na memória raizes fundas e olho fitando o sol.

Até que seque a retina semântica.
Verbo é alma da clorofila em sangue.

Árvore é mente criando palavras do rei.
Rei terra, fome, fogo, cinza.
O real sonho petrificado em limites de reino.
Da lógica, léxico, lei, da luz sólida.

(P. Cruz)