15 abril, 2010

Conto

Conheci João Magro de cócoras contando história nos costados da venda. Eu pirralho de calças curtas e suspensório todo bonito. João fumando palha na prosa com os conterrâneos de Minas. Eu perto curioso ouvindo. A história era de acontecença em vila pequena, por conta de Manoel Maluco um folgazã matador que podia querer, quando bem querer, e tomar na força o que cobiçava. No caso em questã Lia, mãe dos meninos Josué e Jacó, que por linda se tornara lenda, nessas palavras se exprimia. Evidente que se sabia das cruelas do Manoel que eviscerava incontáveis vítimas e a polícia o atinava louco varrido não lhe bulindo desatinos. Ocorre que, no domingo em que Deus descansa, o maluco tomou a casada de arroubo e se acoitou, a desfrutar prazeres, no divã da casa velha do general morto de solidão. O judeu por marido, de olhos baços, foi dar na Igreja do padre Pedro em missa. Interrompida as litúrgicas honras, de confissão pública rogou ao padre que por justeza lhe desse lei. O padre, homem de ira e fogo santo, tomou o arreio na mão e se foi, com o povaréu atrás, rumo ao Manoel Maluco. Entrou na casa de calhas caídas e fustigou sem dó o desavergonhado que de louco só tinha a luxúria nas entranhas. Saíram pela porta, um nu o outro na alva sacerdotal veste. E foi surra justa, mesmo divina, no Judas que fugiu covarde e desapareceu. Lia envolta pelo abraço fraterno do padre foi entregue ao judeu que agradecido mandou taça de ouro pro sangue do conterrâneo preso na cruz salvaguardas. Claro que o Judeu resolveria o caso de outro modo, acrescentou o João de cócoras, todos disso tinham sabença exata. Mas o que haveria de ser do judeu na polícia, e Lia e os meninos na fome e necessidades seculares outorgados feudos de misérias. E findo o cigarro se levantou e a passos largos se foi desengonçado pras cabeceiras do rio onde tinha pouso.

(P. Cruz)