21 agosto, 2008

Rainer Maria Rilke

Recebi, hoje, notícias de Rute. Que vindo de Aquitânia trazia bons vinhos e livros antigos de poesias. E um raro que descrevia os lábios e corpo de Alinor possuídos por Henrique enlouquecido de amor.
Dizia minha amiga que a vida sem um bom vinho é desprezível; que as horas sem o fardo do amor são inexpressivas; e que a morte por amor é a mais triste.
Ela trouxe para que eu ouça: Mozart, piano e orquestra número nove em mi maior.
Fiquei pela noite aturdido me fazendo inconfidências e traduzindo o invisível em meu caderno de ventos se desfazendo grafite.
O sol do dia aberto em poesias se despetalando na noite como incongruências mal resolvidas.
Bem tarde liguei pra Rute. Contei-lhe, de um só fôlego e ânsia, sobre o antepassado de Rilke (nas linhas decodificadas por Cecília Meireles) se lançando com o estandarte sobre o fogo rumo às armas dos “perros turcos”. E do cavaleiro francês com uma rosa presenteada pela noiva, guardada escondida e seca no peito, trazendo ainda o cheiro distante do amor. Ela me pediu que eu lesse a poesia dos cavaleiros tristes. Quando acabei pediu que eu lesse de novo, o que fiz com voz embargada. Por fim desligamos em silêncio, sem despedida ou palavras corrompidas.
O sol de setembro varando cortinas pesadas da noite com raios quebradiços de vidro.
Hoje a noite é eterna e intraduzível.

(Pedro Cruz)