13 maio, 2009

Esquadro

Bumerangue de alabastro,
Esquadro granítico lançado
À um triz
Do espelho vôo de pescador martim
À flor d’água trajetória elíptica
A fio dos caniços revoada
De mosquitos caótica.
Cordão umbilical de plug
Acoplado ao plácido dos
Peixes olhos
De vidros
Violetas vítreos.

Meu australiano objeto polido
Lançado mãos ângulos
Flamengas elipses
De sibilo no ar,
Corte cirúrgico laser.

Eu meu bumerangue
Que explode
À nata aquosa,
Régua risca,
Reta à pele fria úmida.
Bumerangue
Coração imprevisível
Aliciando pérolas frígidas
Aeradas de vazios
Sem longe volta onde vais?

(P. Cruz)

01 maio, 2009

Sentenças para te definir

A borboleta molhou as asas na luz.
Teu coração é uma caverna sob os degraus da igreja.
A bola de bilhar vermelha caiu pena sobre a ardósia.
Tua mente é casa velha sem janelas e portas.
A dançarina cega deu as mãos a um fantasma.
Teu riso é graça, traindo amor na feiúra.
As cordas de cabelos soaram cravos e rosas.
Teu espelho é ferro e tua lança vidro.
A uva negra na taça rubra evaporou-se eloquência.
Tua boca é poeira e outras mortes.
A bata do padre roçou íntima a lingerie de seda da moça.
Teu pesar é estrela caída no fundo azul da piscina.

(Pedro Augusto)

Dez sentenças para te indefinir:

- Me vesti como noiva, num país que é sempre futuro, para ver renas abatidas na neve. Sou caça.
- Toquei teu ombro com a espada de chicote, teu coração paira no ar entre a queda e o termo da ampulheta. Sou indiferença.
- Beijei teus lábios e choveu a tarde toda. Sou a cicuta doce do filosofo.
- Mirei com meu arco flechas que eram pedras caindo no vácuo. Sou sêmen.
- Ditei às estrelas o que transcorria na varanda entre o lobo e a lua. Sou nostalgia.
- Amei tua beleza negra e tuas unhas se molharam na pele da lógica. Sou inconstância.
- Gritei aos morros que se fizessem cama o que diria a ângulos planos e ao vértice curvas. Sou teu coração.
- Quis-me. Sou antítese.
- Quedei-me. Sou consciência.
- Curvei-me. Sou crueldade.


(Pedro Augusto)
Versos

Nesta folha em branco não sei fazer o que estou de lembranças. Não sei desenhar o que não tem significado, sentimento ou forma. Mas, se deixá-la em branco, meu mestre espírito pensa que esqueci as letras e estou a perder memória. Então as combino, aleatoriamente. E o sentido alguém que lê lhes dá como quer: pode ser amor e não o ser, ou flores, sonhos, pessoas; ou a página é o negro das letras e o branco versos que me descrevem com letras embaralhadas ao acaso.

(Pedro Augusto)