29 abril, 2008
24 abril, 2008
Venho de Tempos Antigos
Hilda Hilst
Deus pode ser a grande noite escura
E de sobremesa
O flambante sorvete de cereja.
Deus: Uma superfície de gelo ancorada no riso.
Venho de tempos antigos. Nomes extensos:
Vaz Cardoso, Almeida Prado
Dubayelle Hilst... eventos.
Venho de tuas raízes, sopros de ti.
E amo-te lassa agora, sangue, vinho
Taças irreais corroídas de tempo.
Amo-te como se houvesse o mais e o descaminho.
Como se pisássemos em avencas
E elas gritassem, vítimas de nós dois:
Intemporais, veementes.
Amo-te mínima como quem quer MAIS
Como quem tudo adivinha:
Lobo, lua, raposa e ancestrais.
Dize de mim: És minha.
Texto extraído do encarte à edição de "Cadernos da Literatura Brasileira", editado pelo Instituto Moreira Salles - São Paulo, número 8 - Outubro de 1999.
Saiba tudo sobre a autora e sua na página "Biografias"
23 abril, 2008
Isabela e gatos
Meus gatos ficam na janela
do apartamento
no 6º andar
cobiçando pássaros.
Olhando através da tela,
rede plasma plástica,
o mundo
a queda
o sangue.
Cobiçam o vôo,
o canto
a ave
agilidade
e gravidade ausente.
Meus gatos olham
a Praça da Liberdade,
com unhas agudas
armadas nas patas,
olhos inteligentes.
Tramando fugas
e
q
u
e
d
a
s
l o n g a s.
(Pedro Cruz)
18 abril, 2008
(Pedro Cruz)
14 abril, 2008
Músicos querem aparecer. Músicos querem às vezes desaparecer. Mas não são mágicos.
No palco se equilibram de maneira exata e precária. Malabaristas, saltimbancos, mas não equilibristas. Como a música não os torna sóbrios, tropeçam nos pés de pano e como folhas ao vento, em vôo de embriaguez, pousam no colo da sedutora princesa que apresenta programas de TV. Num dia são amados, noutro levam um fora escrito em guardanapo de pano ou um “Não” riscado numa foto como autografo às avessas.
Sempre ouvimos suas queixas chatas, de que querem privacidade pra chorar no banheiro sem serem incomodados. São humanos demais. Sensíveis em demasia.
O banco da praça pode ser um álibi para não voltarem pra casa cedo enquanto roubam palavras dos bêbados e as transformam em flores; ou enquanto roubam beijos da diarista e os embrulham em sonhos; ou mesmo enquanto roubam do palhaço a mulher e a vestem de rainha.
Músicos são perigosos.
Suas palavras podem verter um rio de lágrimas ou desaguar risos de palavras.
Podem ser o Rei Momo na madrugada de quarta-feira de cinzas esperando com a fantasia rota, num ponto de ônibus vagabundo demais, enquanto a alegria lhe nega carona para o trabalho.
Músicos são pessoas tão comuns. Muitos medíocres. Alguns geniais. Pássaros de festas e poesias.
Cantam versos. Controversos. Erram rima, riscam, rabiscam, e se tem senso são tão destituídos de senso que a verdade deles acaba sendo nossa. E então, somos seus donos de mentira, por um momento, antes que o show termine, o dono do bar apague as luzes, feche as portas, e empurre todos de volta pro dia-a-dia.
(Pedro Cruz)
08 abril, 2008
Nome, blog e imbróglio
O Dia do Diabo (3)
"Mas isso que conto é causo, lenda, conversa de gente ao derredor do fogo, à luz do lampião, ou quando se reúnem os amigos para afiar o fio da memória, entre um gole e outro, entre a fumaça do cigarro de palha e do cachimbo, entre o cheiro do café e da broa, nos velórios entre a lembrança do morto e o sonho em que se lançam as almas tirando um cochilo na cama de terra." (Pedro Cruz)
O Dia do Diabo (2)
(páginas arrancadas)
Hoje eu dançaria com os
ciganos se minha casa
fosse um jardim.
Mas lá fora chove,
sempre chove.
Assusta-me as pessoas
não se molharem enquanto
sonham o sol
e andam rumo
ao destino
como se estivessem numa fila
de Banco para sacarem
sonhos que não compram
vida.
Mister, você pode ver
com que cara de felicidade
pisam flores
como se andassem no mármore
do shopping.
e o brilho nos olhos,
por detrás dos óculos negros,
como se o amanhã lhes pertencesse?
O Dia do Diabo...
(páginas arrancadas)
"Caro Senhor Johnny Depp,
minha sala está nua
e da janela vejo
o arco-íris na manhã.
(Espere um pouco, preciso
fechar a porta por dentro
caso ela queira voltar
e retirar a escada que
(BINÁRIO HAI KAI)
bela ela não se sabe
no espelho das águas no shopping
o 'ping' é só ar japa
no som do Bob Marley.
(Pablo Lobo)
(HAIKAI)
ela não se sabe bela
no espelho das águas do shopping
o 'ping' tem aquarela
com jazz de janis joplin.
(Pablo Lobo)