27 julho, 2013


Consideração sobre a raça

Alguns dos meus antepassados foram negros. Os de canelas finas que eram bons e rápidos no trabalho. E dóceis. Angola, Moçambique, Kabinda não sei. Vovó, bisavó sem passado sem memória, linha seccionada no tempo.
Outros antepassados europeus. Holanda e Espanha.
Portugueses, judeus e índios.
Dos judeus eu tenho o senso. De Holanda minha irmã tem pele. De Portugal temos a dor indefinível do fado. De Espanha o cheiro do pó toscano, touros e o fio mourisco de espadas curvas. Dos índios a hora da chuva, a pajelança, a nudez sem pêlo.
Mas, a alma dos negros está enterrada sob minha pele profundamente, coberta de cal. Sob a terra negra da memória e a cal branca da violência. Branca pra negar a origem. Negra pra esquecer a história. É um aprendizado cultural, uma educação cultural, uma disciplina cultural. Negar a raça, negar a cor da pele, negar a herança. Negar a alma da raça que habita e não habita. Que sente e não sente que vive e não vive. Que geme e não geme.

(P. Cruz)

08 julho, 2013

Rude

Creio na poesia vento de palavra.
Ignora que números sempre mentem?
Ele substitui o hiato por signos
Entre degraus caminha-se no ar.

Creio na música pássaros em silêncio.
A mente não se limita ao cérebro unicamente.
O que ele se descreve no singular?
Língua no palato tem som de vacuidade.


(P. Cruz)