14 abril, 2008

Et Músicos
Músicos querem aparecer. Músicos querem às vezes desaparecer. Mas não são mágicos.

No palco se equilibram de maneira exata e precária. Malabaristas, saltimbancos, mas não equilibristas. Como a música não os torna sóbrios, tropeçam nos pés de pano e como folhas ao vento, em vôo de embriaguez, pousam no colo da sedutora princesa que apresenta programas de TV. Num dia são amados, noutro levam um fora escrito em guardanapo de pano ou um “Não” riscado numa foto como autografo às avessas.

Sempre ouvimos suas queixas chatas, de que querem privacidade pra chorar no banheiro sem serem incomodados. São humanos demais. Sensíveis em demasia.

O banco da praça pode ser um álibi para não voltarem pra casa cedo enquanto roubam palavras dos bêbados e as transformam em flores; ou enquanto roubam beijos da diarista e os embrulham em sonhos; ou mesmo enquanto roubam do palhaço a mulher e a vestem de rainha.

Músicos são perigosos.

Suas palavras podem verter um rio de lágrimas ou desaguar risos de palavras.

Podem ser o Rei Momo na madrugada de quarta-feira de cinzas esperando com a fantasia rota, num ponto de ônibus vagabundo demais, enquanto a alegria lhe nega carona para o trabalho.

Músicos são pessoas tão comuns. Muitos medíocres. Alguns geniais. Pássaros de festas e poesias.

Cantam versos. Controversos. Erram rima, riscam, rabiscam, e se tem senso são tão destituídos de senso que a verdade deles acaba sendo nossa. E então, somos seus donos de mentira, por um momento, antes que o show termine, o dono do bar apague as luzes, feche as portas, e empurre todos de volta pro dia-a-dia.


(Pedro Cruz)


Um comentário:

Unknown disse...

Maravilhoso demais!!!!

Um beijão de te amo muito.