13 outubro, 2009

Clara na Siciliano

“...Era o vazio o que me esforçava por saber. O inanimado das estantes, luzes, máquinas, quadros, fotos enorme de escritores estrangeiros, cartazes de marketing.
Numa outra dimensão talvez não existíssemos, ou só fonte de calor, magnetismo, energia psíquica, cheiro. A loja é sólida, semivisível ou invisível a nós. Pertence à outra ordem de eventos que eu procurava apreender.
Isso a respeito de uma conversa com o Carlos que me disse que era realista, só enxergava a realidade, com os pés no chão. E eu tão névoa, ectoplasma, vendo o bom das coisas e das situações, o que certamente era tolice da minha idade, apesar de estar um pouco alta por cima de um salto imenso pisando o éter da caipirinha de vodka no meio da tarde.
‘O senhor procura alguma coisa?’ disse a vendedora ao homem que o tempo todo me comia com os olhos. ‘Não, nada’ disse voltando pra ordem real das coisas e pra moça, acho nissei. ‘Algum livro em especial?’ com expressão indisfarçável de número de vendas. ‘Se precisar eu falo!’ - convencendo-se a não trair impaciência. ‘Meu nome é Clara, qualquer...’ alguém chamou e ela foi atender, completando a frase com um gesto como se ele entendesse o resto. No terminal de consulta encontra: - A Ascensão de Prometeus! Robert Anton Wilson! – lê em voz alta, - Ana ainda deve amar o Jorge. Velhas lembranças... – falando sozinho pra tela que cheira a queimado.
Acho que gosto como ele me olha. Sinto seu olhar passear pelas minhas pernas, coxas, bunda... Nossa que coisa sem nexo.”

(P.Cruz)

Nenhum comentário: