26 abril, 2009

Lago Paranoá

Pássaro azul que voa no espelho do lago
num dia de enfado.
Pássaro no meu copo de cristal e gelo
num dia de tédio e desvelo.
Azul de ave na blusa dela,
pássaro nos olhos em duplicidade
de partenogênese.
Azul ave contra nuvem
é trovão e raio no lago repentino
de pele eriçada soprada por vento frio,
ondas nervosas quebrando espelho,
dissolvendo o azul em chumbo.
Pássaro azul que voa, não caia, por favor,
não caia.
Não agora que o lago encrespa áspero
e pode estilhaçar asas.
Não és albatroz nem pelicano,
gaivota nem mergulhão ou anjo,
nem invencível azul de pássaro.
Não caia.
Não faca n’água rompendo
o silêncio do vento, não caia
nesse repente de alento
zero.
Pássaro azul cuida que a água
é robusta afiada pedra. Fagulha.
Azul de nave não caia chumbo nesse
contorcionismo esquisito de parafuso
sem preâmbulo de novo planar
alto de outros planos e rotas
de vôo.
Avião pássaro avião azul de pássaro
avião suba, arremeta de vôo seta ao céu
não ao chão
de água em fogo, ferro, explosão.
Pássaro azul não caia nesse desvão
de espíritos em revoada de morte
e escuridão.
Pássaro anjo nessa queda inexpressiva
do céu ao inferno banido
por deus do paraíso
rumo ao fogo do petróleo em combustão,
água que inflama a tarde de eterno pesar avião,
não caia.

(P. Cruz)

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