29 janeiro, 2009

Caliandra

No litoral ermo da Irlanda, numa casa chamada “O Templo da Rosa Alquímica”, de noite os espíritos de homens e mulheres, belos e altos, do Egito e da Grécia Antiga, vem dançar num aposento revestido de mosaicos, com uma grande rosa no teto, imagina W. B. Yeats, poeta simbolista e místico, nascido em Dublin no século XVIII. O céu de chumbo carregado de nuvens, montanhas úmidas verdes de musgo, mar gelado arrebentando contra pedras. O Rei do Mar trazendo tempestade. A Montanha “Shine” onde existe um palácio subterrâneo habitado por fadas. As marcas de redemoinho na areia feitas pelo Rei do Ar enquanto o Rei do Fogo corre do Oriente ao Ocidente, de Norte a Sul, e sereias cantam de dentro do Mar vozes de vento.

Limpo o pó vermelho do vidro do carro. Vejo turvo o cerrado cru, de árvores tortas, secando. O redemoinho furioso leva embora a roupa do varal. Voa meu coração pano e cai. A cerveja tem gosto de terra fria. As três da tarde e o dia já está morto. Insisto em me convencer do contrário. Daí que me vem Yeats na mente, contra esse dia de tempo hiato.

(P. Cruz)

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