07 novembro, 2008


Instantâneo Tempo

Joguei uma pedra
no escuro do poço.
Joguei uma flor
no bueiro aberto de som oco.
Joguei um punhado de terra
na cova aberta inda pouco.
Joguei um coringa
na mesa de pedra, bem morto.

Joguei tua echarpe
como pena ao vento, rota.
Joguei uma semente
no xaxim e a cobri com pó de folhas.
Joguei pra fora
da casa toda louca tralha.
Joguei os teus olhos
na solidão da lua fosca.

Joguei moedas de prata
ao vagabundo de braço toco.
Joguei pro alto
toda dor, desespero, desgosto.
Joguei o som da viola
com o vento roçando teu rosto.
Joguei com a timidez
e bebi tua boca sedento e louco.

(P. Cruz)