07 abril, 2009

Lei

A mulher Noite veio a mim com seu conto de sombras e sorriso de ébano... Trazia na coleira de estrelas um cão de olhos brilhantes e um colar de almas - diamantes incontáveis como poeira cósmica. Deu-me um bracelete e uma semente.
A semente atirei aos corvos e ao arcoíris que brilhava nas suas asas.
O bracelete guardo pra dama púrpura que me chama de esquecimento.
Quando as margaridas se abriram no meu diário de estatísticas e probabilidades, e o acaso determinou que não seriam flores, mas vento, um mestre parvo trouxe minha luva e falcão condenado ao vôo.
Foi então que Michael me gritou com asperezas, espadas e rosas, e tornei-me perplexo, se algo assim se torna.
De modo que estou no que passa a se perder na história, e escorre na pedra e pousa à flor d’água como negra flor alquímica de branca a azul e multicolorida - a qual dei nome de asas de beija-flor.
Ouvi o choro do recém-nascido envolto em linho branco e pousei-o no colo da mulher Noite - que lhe deu o leite das galáxias em fogo e indicou-me a porta do céu além da qual era preciso que eu me desse a desejos, amores e disciplinas axiomáticas. Assim defini a Lei:
- A Lei carece de senso!
O menino largou de imediato o seio e colocou o indicador da mão esquerda sobre os lábios num gesto de silêncio e o cão da Noite arrastou a corrente e olhou-me com olhos de assombro.
Quando abri o portão ouvi que diziam de mim: -Verme, miserável, gusano, larva...
Mas então eu já estava abençoado e vestia minha capa de chuva. E ocorreu-me que eu podia rir e duvidar. E ri a mais não poder. E duvidar duvidei.

(P. Cruz)

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