26 julho, 2008


Justiça

Com que sonha João-ninguém, imperador do lixo, jogado sujo em seu castelo de papelão podre, à sombra do hipermercado vinte e quatro horas por dias, semanas, meses e anos à fio com máquinas devorando dinheiro e sonhos dos escravos por consumo?
De vez em quando anda pelo bairro empurrando um carrinho de supermercado cheio de nada, tralhas, contendo tudo. Gritando prá qualquer um na rua sua raiva de esfomeado, de tantas brutas fomes que estão prestes a se tornarem insaciáveis por uma eternidade.
João, que tem por súditos uma multidão de zés-ninguéns, que habitam nos vãos dos viadutos de Brasília, cidade que dorme em berço esplêndido tendo lânguidos sonhos de drogas, corrupção, morte, traição, celas em hotéis de luxo e paraísos fiscais invioláveis.
João de “deus” a deus-dará com sua corte de revés jogada na sarjeta, relento, várzeas e esgotos, comendo o pão que o político amassa, o juiz assa, o banqueiro deixa apodrecer e o sacerdote-pastor oferece como milagre de multiplicação e remissão de pecados.
João sonha com justiça e espero que esse sonho amanheça ao seu lado e vá para as ruas gritar justos e rudes impropérios que se façam ação, transformação e realidade, e acorde os Senhores da Corte fechados em seus palácios de merda.

(Pedro Cruz)

Um comentário:

Alves Advogado disse...

Visitei o seu "blog", meu brother.

Li todos seus contos... "Justiça; Sonhos; Bhah! Virgulas";
Até ao "Beijo", cheguei... de todos gostei.

Eleger um entre tantos poderia não ser elegante, nem mesmo prudente,
vez que a sapiência e harmonia de suas rimas fazem delirar o leitor à
medida que se alimenta das sabedorias ali contidas.

'Justiça'! Ah, sim! Talvez tenha sido este que mais minha atenção tenha prendido...
não pela pela forma bandida da vida para certos "zés-ninguéns", mas certamente
pela sua maneira inteligente dedicada a essa pobre gente.

Parabéns, Cmt Pedro!

Fraternal abraço
Alves
Bruxelles/Belgique