26 agosto, 2010

Nuvem

Assisto a morte dos blogs. Blog é uma coisa como relacionamento, com prazo para acabar. É meio um animal que se replica e depois se devora cuspindo filhotes. Ou como árvores petrificadas, mato, capim, planta no vácuo. Muitos já parecem cidades fantasmas perto de garimpo sem ouro. Outros casas abandonadas vazias com poeira e bolor de bites. Alguns causam a sensação de que são sítios arqueológicos, com ossos à amostra e cacos de cerâmicas vazando impressões e sentimentos velhos sacralizados. Uns dois me dão tristeza visitá-los com seus relógios de parede parados em hora e dia de cansaço. Outros, em estertores, teimam em desfiar sua agonia lentamente. Poucos são eternos e neles se cristaliza um momento de razão e dor. As janelas com figuras sem movimento e música ficam lá paradas esperando num clique ganharem vida. Não me causa espécie observar os sinais vitais em pulso rítmico curioso, de exato simulacro de vitalidade. Nem me repulsa seus corpos em indecorosa pose mortuária em público. Impudicos, desnudos, sem saco para soldado morto em batalha ou traficante abatido em morro. Morrem e ficam lá onde não sei e ninguém parece saber, e dizem que é uma nuvem dessas bestas que ninguém sabe se vira chuva ou céu invisível.

(P.Cruz)