19 setembro, 2009

Ergo Ego

Seu amar
É pó,
É vidro,
É fácil,
É dócil.

Seu é o arco-íris,
Tempo de jogo.
Seu amor é físsil.
Seu amor é físico.

Seu cantar é mudo,
Seu é o absurdo,
Sua a vingança,
A moral do medo,
Seu caráter nulo,
A violência é sua
Atitude e desprezo.

Seu todos os riscos
E perigos.
Seu destino sorte.
Seus são os corpos
Usados como abrigo,
Seus os mortos
Deitados no futuro,
Seus sonhos
Não são assim
Puros.

É sua a tortura,
E seu todos os tiros
De misericórdia,
É a sua podre aposta
E estilhaços
Que ferem amigos,
E seus os lábios
Pintados de mentira
E esse beijo
Óbvio.

(P.Cruz)

16 setembro, 2009

Gregos

Torsos nus em redobrada tensão
Músculos nós duros.
Cabo de Guerra.
Corda imensa, marmanjos,
Braços rijos,
Coração pesado,
Dentes cerrados,
Respiração funda mar.
Corpos em convulsão.

Corpos em declive.
Nervos a romperem-se,
Veias a liquefazerem-se.
Homens imensos
Em combate de força
E masculinidades.

Cabo de aço,
Não queda de braço
Ou capoeira lançada,
Climatério precoce.
Explosões de espermática
Performance.
Gregos lineares.

Mãos sem pele.
Corda pênis em partilha.
Nervos de aço.
Veias expandidas a
Limites máximos.

Torso arqueado,
Cintura dura,
Coxas base,
Pés de chaplin,
Cicatrizes.

O equilíbrio quase eterno
Agora se parte.
Não a corda de aço rompida,
Ou cordão umbilical de prata,
Ou distensão do músculo,
Afrouxar de nervos,
Honra ou
Laço de seda verde.
Parte-se
O macho ao meio.

Pênis fracionado:
Urros num lado,
No outro gozos.
Passivos e ativos,
Plural e singular,
Vitoriosos e escravos,
Submissão
E fantasias
De onipotência e
Gemidos curvos.
Joelhos na terra postos,
Arame farpado na mão
Onde antes havia
Corda
De aço.
Cabo de cartilagem esgarçada
E nervos quebrados.
Vontades vencidas,
Catarse fimose,
Ovos esmigalhados,
Potência fecundada.
Gregos estetas graves.

Medula e barro,
Queda e leveza,
Ferro e ave,
Território perdido.
Corpos arrastados
Em poses esquizofrênicas de testosterona
E bocas secas.

Cérebro uno
Que látego lateja
Em mergulho
Contra superior
Força e bramido
Macho.
Músculos ou murchos.
Máximo ou micha.
Bicha ou bicho.
Projétil ou reto.
Ereto ou caído.
Alfa ou ômega.
Mega ou mínimo.
Grávidos, fecundos.
Gregos de proporções exatas.

Abraço.
Corpos em abraço
De vencidos e derrotados.
Lágrimas vertidas
Em mágica:
Invisíveis.
Braços em amparo.
Soluços no peito
Alheio.
Fracasso.

Peito contra peito.
Braço a braço.
Olho no olho
E brilhos.
Gregos de Esparta
Guerreiros de aço.

(P.Cruz)

11 setembro, 2009

Espelho

É belo esse animal que agoniza,
É bela a morte desse animal
Corpo de leão,
Asas de anjo,
Cor de lobo,
Face de menino.

Ele não sabe o que agora sabe:
A vida se dissolve em dor,
Toda vida bela todavia efêmera.

Esse animal que agoniza e morre
Escorrendo substância de crença,
Sentimentos irreais,
Não se apegou o suficiente
À terra, à luta, à guerra,
À mente, a indiferença.

É um animal belo, e só.

Esse animal que foi criado
De fábulas, poesias, sonhos,
Desaparece da memória
Sem deixar vestígios.

É um animal triste e belo,
Feio e velho,
De pelos ralos,
Força vaga.

É um animal do qual
Pede-se misericórdia
Ou morte rápida.

Agoniza, e só.

A natureza o decanta,
Obsoleto.
Não habita esse tempo.
É arcaico, fútil,
Redundante, belo inútil.

Dos seus olhos de águia
Pedras túmulos brancos
Cruzes de ferro,
Pássaros entalhados em vôo.

Do corpo de leão
Farás tapete de pedra
Queimado
No sol do tempo.

Das asas de anjo,
Panos pobres trajes puídos
Com ossos à mostras,
Farás estandartes e roupas
De solidão e festas.

Da cor lobo
Que habita o coração,
Dirás invisível
Palavra que seja.

Da face de menino
Farás a máscara do
Xamã louco
Vestido em pele de leão,
Com olhos de águia na fome,
Com asas arrancadas às horas de fúria,
Com coração de lobo uivando a cor dos mortos,
Conjurando cavalos em fuga,
Se escondendo do sol
No viés escravo do dia
Entre buracos das horas
Em que o silêncio
Pronuncia sentença
De crueldade e força bestial.

(P.Cruz)